A pandemia da COVID-19 impôs ao mundo a adoção do ensino remoto emergencial, com ele, surgiram novos aprendizados e dificuldades para professores e alunos da rede pública.
Por Julia Santos, Letícia Ramos e Karoline Guimarães
Março de 2020, portas fechadas! Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, escolas do Brasil tiveram as aulas suspensas. O novo ensino a distância proposto pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo estadual durante esse surto do vírus virou motivo de queixas entre professores, alunos e pais.
Uma das principais reclamações de estudantes é a falta de interatividades entre os educadores para esclarecer dúvidas e manter contato com eles. “Se torna bem complicado, nós temos diversas dúvidas que não podemos tirar com o professor, eles demoram de 5 a 10 dias para nos responder”, afirma Bruna Santos, 15 anos, estudante do ensino médio.
Essas reclamações são fruto da falta de preparação dos ensinos remotos emergenciais elaborados pelos órgãos públicos, tendo como consequência um cenário desafiador de falta de estrutura para muitos educadores e estudantes.
Ensino a distância na quarentena escancara a difícil realidade na educação
O mal planejamento na educação é um assunto recorrente. De acordo com dados do Ibope, 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização não conseguem ler e, ainda de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), o Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre os 65 países avaliados.
A professora Debora Catarino, 44 anos, exemplifica esse tema. “Os profissionais de educação precisam ser muito criativos e muitas vezes investir do próprio bolso para tentar se equiparar ao ensino privado. Os profissionais, por serem funcionários públicos, são pouco respeitados e valorizados por governantes e a população”, relata.
Para a professora de sociologia Aline Antochiw, 30 anos, a desigualdade social se tornou uma grande barreira para o avanço do ensino. “Em relação à pandemia, esses aspectos se tornaram ainda mais evidentes. A desigualdade social influenciou diretamente na qualidade do ensino oferecido às nossas crianças e adolescentes”, explica Aline.
Pais insatisfeitos
O que muita gente não sabe é que, com muitos estudantes em casa e com as lições para realizar, os pais também são sobrecarregados. Segundo a pesquisa “A situação dos professores no Brasil durante a pandemia”, realizada entre os dias 16 e 28 de maio, 31,9% dos docentes afirmam que a maioria dos pais e responsáveis tem participado das atividades a distância. Na rede pública é de 36%.
Elaine Almeida, 35 anos, mãe da Bruna, destaca que sempre foi presente na educação escolar dos filhos, mas para ela, que sempre trabalhou fora, este momento tem sido também de muita dificuldade.
Para muitos pais, o grande obstáculo para um bom aprendizado também é a falta de acesso à internet para estudar e esclarecer dúvidas com os professores. Esse é o caso de Andreia Gonçalves de 43 anos. “Não tenho muito acesso à Internet. Até porque eu tenho apenas um celular. E o outro [filho] fica basicamente sem estudar”, diz.
Retorno das aulas
Em setembro, o governo do estado de São Paulo anunciou a volta às aulas presenciais para 7 de outubro para toda a rede de ensino, público e privado, da educação infantil ao ensino superior.
Para a volta das aulas no dia 7 de outubro, ficou decidido pela gestão de João Doria (PSDB) que a rede estadual, que atende cerca de 5 mil escolas, daria prioridade para o retorno de alunos do ensino médio e de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A medida previa ainda a volta dos estudantes do ensino fundamental da rede estadual para o dia 3 de novembro e permitindo que as demais redes de ensino optem por quais séries deveriam priorizar.
Um cenário pós-pandêmico para a educação
Como uma forma de recuperar o aprendizado prejudicado, o governo de São Paulo afirma que será feita uma avaliação individual dos estudantes para a recuperação do conteúdo que não foi aprendido durante o período de ensino a distância.
Além do investimento, por parte das escolas, em acolhimento socioemocional e em programas de recuperação para alunos com dificuldades nas matérias. Outra alternativa foi apontada pelo secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares na quarta-feira (6), em entrevista à GloboNews. O secretário afirmou que a rede estadual irá trabalhar o ano letivo de 2020 e 2021 como um ciclo único de ensino.
"Vamos trabalhar o ano de 2020 e 2021 como um ciclo, como se fosse um ano só, especialmente para esses alunos que já entregaram as atividades e estão entregando", disse Soares.
A proposta, segundo o secretário, pode ser aplicada para os alunos aprovados este ano e tem função de unificar o ensino em oito bimestres para dilui-lo e dar a chance de recuperação para quem não conseguiu acompanhar os conteúdos e não aprendeu.
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